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23.1.07

A Chef e o chato

Não dá para negar que a vida moderna nos tirou certos prazeres.Talvez um dos maiores era receber dos amigos pelo correio cartas e cartões daqueles de papel com selos e carimbos, lembra? Mas ao mesmo tempo em que esse prazer praticamente acabou, a mesma vida moderna traz agora pelo mesmo correio outras coisa tão interessantes quanto: livros do Submarino, Amazon e dessas livrarias virtuais todas. Você vai ao site, escolhe o livro, vê a capa, lê a resenha e às vezes até um pedaço do texto, clica em comprar, senta e espera chegar. Só não é melhor do que fazer isso na livraria de verdade, mas tem muitas vantagens. Não é ótimo chegar em casa e ter um pacote com aquele livro te esperando? É tão bom quanto uma carta.
Da última vez que fiz isso, chegou um pacote com dois.
Um era o do francês François Simon, apresentado como o crítico gastronômico mais temido da França. Comprei seu último livro, Comer é um Sentimento, querendo descobrir porque ele tem essa fama. Pensei que ia encontrar textos cheios de verve e crítica dos melhores restaurantes e chefs franceses, mas fui enganado. O livro é uma coleção de Lições (assim mesmo com maíscula), que estão até numeradas e seguem uma ordem lógica, começando por “Olhe-se” passando por “Abra os ouvidos” e indo até “Acolha a doçura”. O livro é chato. Em nenhum momento Simon mostra qualquer motivo nem atitude para que os chefs franceses tenham medo dele. Ao contrário, tem um texto doce, quase afetado, e que parece estar falando para crianças. Não gostei. Confesso que a partir de certo ponto fui pulando páginas atrás de alguma coisa que prendesse minha atenção, mas nem as poucas receita perdidas pelo livro são atraentes. Se eu fosse o bonequinho da crítica de cinema do O Globo, estaria dormindo na poltrona.
Já o outro livro do pacote não precisou de três páginas para me prender. Ele é a versão encadernada daquele tipo de cardápio em que você fica na dúvida do que escolher porque tudo é bom. Carlota - Balaio de Sabores da Carla Pernambuco é um livro de receitas com ótimo texto e excelentes fotos. Dividido em doze capítulos, Carlota começa mostrando os pratos que fazem sucesso nos seus restaurantes, continua com diversos pratos brasileiros simples como picadinho e cocada, passa por comidas do mundo, exóticas, de regime, responsáveis e rápidas e termina com sobremesas, caldos e molhos. Às vezes parece que ela abusa dando receitas de bife a cavalo, farofa e bolo formigueiro, mas o livro é todo tão coerente que fica perfeito. Em cinco minutos tornou-se o meu livro de receitas favorito da vez. Recomendo com veemência tanto para quem já sabe cozinhar como para quem quer começar por cima.
Apesar de toda modernidade da compra virtual, quando o livro da Carlota chegou pelo correio, foi como receber uma carta daquele amigo de infância que está morando longe e quer dividir as novidades com você. Quase como nos velhos tempos.

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3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Sim, Paco!
Pacotes de livrinhos que estamos loucos para ler suprem a correspondência afetiva. Melhor que isso, só qdo alguém compra o livro pensando em você...
Bjos
Andrea

24/1/07 13:59  
Anonymous Anônimo said...

A mesma nostalgia q eu tenho de receber cartas e a mesma alegria de receber um pacote pelo correio, impagável!

Que coisa mais cafona estes títulos do François Simon. "Comer é um sentimento" já diz tudo. Não é gozação, é sério? Que horror!

Vou comprar agora o da Carlota, tô convencida. Vc conhece o dela pra crianças, o "Juju na Cozinha de Carlota"? Uma graça!

24/1/07 15:57  
Blogger Fugu said...

Imagino que você esteja coberto de razão com relação ao livro do François Simon. Eu o tinha comprado, juntamente com a Nova fisiologia do gosto, de Jean Marie Amat e Jean Didier Vincent. Os dois são da Editora Senac. Comecei a leitura pela NFG. O livro é tão gritantemente ruim, tão amador do ponto de vista editorial (texto original confuso, tradução lamentável e conteúdo tosco) que devolvi o segundo sem nem sequer abrir. Foi a primeira vez na vida que fui a uma livraria para devolver um livro. Esta coleção do SENAC parece ser, toda ela, um equívoco lamentável.
Ah! Salva-se o capista (hoje chamado de graphic designer). Como dizia minha avó: por fora, bela viola ... rsrsrs

15/2/07 14:57  

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