J, de jaca
Já que não estou aqui para enganar ninguém, vou logo deixando as coisas claras: detesto, odeio, tenho horror a jaca, mas reconheço o valor de uma fruta ao mesmo tempo tão comum e exótica. Fechada ela ainda engana - pode ser redonda, alongada, pequena ou enorme - por fora a jaca tem uma bela côr e uma linda casca. Em compensação, depois de aberta seu cheiro a leva pelo caminho oposto, rumo ao muito desagradável. Mas como tudo na vida, há quem goste.
A jaqueira entrou no Brasil pela Bahia vinda da Índia não faz muito tempo, no século XVIII, e tomou o país. Hoje ela é cultivada em toda a costa e na Amazônia. Eu a conheci de perto - talvez perto demais - nos morros uma vez verdes da Gávea no Rio. Minha casa era rodeada de enormes jaqueiras e não raro escutava o barulho da fruta madura descendo lá do alto, atravessando a folhagem e se espatifando no chão. Uma jaca grande deve ter mais de 10kg, então dá para imaginar o tamanho do susto que a gente às vezes levava.
Jaca é tão surpreendente que o que se come dela são as centenas de bagos cobertos por uma capa grudenta, pegajosa e, claro, fedorenta, que existem em seu interior. A maciez desses bagos define se o tipo da jaca é "manteiga" - pura calúnia associar manteiga a jaca - ou do tipo "dura". Em geral os bagos são comidos crus, in natura, mas deles também são produzidas geléias e doces. Para quem pretende mesmo enfiar o pé na jaca, provar os licores e aguardentes feitos da fruta é sem dúvida a melhor opção.
Bela mas fedorenta, exótica mas popular, simples mas complexa, amada e odiada, a jaca é talvez uma das frutas mais incompreendidas, não me atrevo a dizer injustiçadas, que existem por aí. Mas minha impressão é que ela é tão indócil e difícil que nem mesmo o Triogros, mestre em olhar nossas frutas com outros olhos, conseguiu inventar um prato decente com jaca. Prá mim jaca só no pé, e de preferência num pé bem alto e distante.
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