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26.6.09

O Bistrô Carioca unplugged

Três anos e 150 posts depois de nascer, o bistrozinho aqui mantém seus ideais intactos e faz mais ou menos o mesmo caminho que prega nas suas páginas on-line.
Exatamente como está acontecendo na gastronomia, retoma valores tradicionais e nada tecnológicos e bota no papel o que antes era só virtual.

É isso mesmo. Fiz um apanhado dos melhores, mais divertidos, gastronômicos e sinceros posts e coloquei em uma versão desconectada, com peso, cheiro e textura, que traz um resumo do que se poderia chamar de linha editorial do Bistrô, onde a observação dos costumes, o humor e o caráter meio ranzinza que marcam sua personalidade podem ser conferidos sem a necessidade de se ligar nada na tomada.

Com um belissimo projeto gráfico do Gabinete de Artes e quase cem páginas, O Bistrô de Papel é um antigo projeto que só agora ganhou corpo e condições para aparecer.

Numa época onde três anos podem ser considerados uma eternidade e o que a gente escreve numa tela de computador pode desaparecer com um clique, colocar tudo no papel impresso não é só um prazer como é a garantia de que todas as nossas idéias e até alguns ideais não vão ser apagados quando faltar luz. Além disso é um ato de amor por um suporte que no final das contas foi onde tudo começou.

Editar um livro no Brasil já foi mais difícil, mas distribuí-lo é ainda praticamente impossível. Por isso, se alguém tiver uma sugestão de como/onde posso fazer a distribuição, será muito bem vinda. Enquanto isso quem quiser um exemplar basta me escrever que vou fazer o possível para atender.


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14.6.09

Dois restaurantes com vinho nos nomes

O Luiz Horta sempre diz do alto de sua sabedoria que é a comida que deve harmonizar com o vinho, não o contrário. Pelo menos aqui no Rio tem dono de restaurante que concorda tanto com ele que acaba colocando vinho no nome da sua casa. É o caso do Intervinos em São Conrado e do Le Vin em Ipanema que têm muito mais em comum do que apenas vinho no nome. Mas têm grandes diferenças também.

Além do vinho nos seus nomes, os dois restaurantes têm cardápios muito parecidos. Ambos oferecem o que se pode chamar de cozinha de bistrô, com aqueles pratos típicos dos restaurantes tradicionais franceses. Nos dois você encontra moule et frites, cassoulet, steak tartar, entrecôte com bernaise, confit e magret de canard além de outros pratos, onde cada casa busca se diferenciar, dentro dessa linha de simplicidade e qualidade que o bistrôzinho aqui preza tanto.

No Intervinos, o nome infeliz – para mim parece nome de importadora, não de bistrô francês – esconde um restaurante que foi a melhor surpresa dos último tempos. Apesar da localização ingrata, funciona onde por muito anos foi o Take, um dos japoneses pioneiros da cidade, a visita ao “outro lado” de São Conrado foi prá lá de compensadora. Sob um edifício residencial e ao lado de uma verdadeira autopista, de fora a casa até parece modesta, mas a pequena fachada se abre num ambiente sóbrio, com pé direito duplo e nenhuma referência a um bistrô como o do cardápio que descobrimos depois. Logo na porta há uma boa exposição de vinhos para o cliente escolher e levar para a mesa. Curiosamente todos têm uma etiqueta com seu preço, bons preços, para você não precisar ficar perguntando quanto custam. Então, para deleite dos que pensam como o Luiz, nós escolhemos um Torres Gran Coronas Cabernet Sauvignon para acompanhar os pratos que ainda nem conhecíamos.

No Le Vin o ambiente é bastante diferente. Instalado numa casa no coração de Ipanema, a filial carioca do original paulistano chama a atenção pela simplicidade, quase descuido, com a ambientação externa. Mesinhas de bar ocupam a calçada sob um toldo que cobre também a varanda onde nos sentamos. Na entrada pelo que seria a garagem da casa, há uma vitrine com ostras frescas o que já dá uma dica do perfil do Le Vin. Ao fundo uma grande e bem iluminada adega faz jus ao nome que está no letreiro. Lá dentro o ambiente é mais arrumado mas ainda com um ar caseiro que não acrescenta nada, inclusive a toalha quadriculada usada em todas as mesas remete muito mais a uma cantina do que a um bistrô.

Então, além de totalmente diferentes, os ambientes das duas casas pouco ou nada têm a ver com suas propostas culinárias, muito curioso.

Depois de abrirmos o Torres, chegou na nossa mesa do Intervinos um couvert delicioso com croquetes de cordeiro, queijo de cabra no azeite, caponata, patê e ótimos pães. Ficamos sem reclamar nesse couvert com Torres por quase uma hora esperando uns amigos atrasados. E se eles tivessem se atrasado mais, eu até agradeceria. Mas na hora de escolher os pratos, aconteceu aquela dificuldade típica de bons menus que já abordei aqui. Dá vontade de provar todos, desde a salada mais simples ao tournedor com foie gras do dia. Mas quando tem cassoulet como opção, a concorrência fica prejudicada.

Em Ipanema também escolhemos o vinho antes, duas taças de um Luigi Bosca Pinot Noir muito aromático que chegou junto com um couvert bastante simples: bom pão fresco, patê e boa manteiga. A ressalva que faço quanto ao couvert é que éramos duas pessoas e nos cobraram dois couverts embora se fossemos uma ou quatro pessoas, como vi em outras mesas, o couvert seria o mesmo. Acho correto cobrar por mais quando repõem o que comemos, o que não aconteceu. Mas vamos em frente porque a comida estava boa. Como havia comido cassoulet alguns dias antes, optei por um entrecôte com bernaise e batatas fritas que estava delicioso, no ponto, macio, molho muito bom e bem apresentado. Confesso que não esperava por tanto. A madame pediu um ravióli de camarão com molho de tomates e gengibre muito bom também.

A mesa no Intervinos era maior e os pratos mais variados mas com a mesma boa surpresa. Da pissaladière e do penne com abobrinha das meninas à paleta de cordeiro com legumes grelhados do Gus, todos sorriram da primeira à última garfada. Inclusive eu com meu cassoulet servido perfeitamente numa caçarola de barro e o Paolo com seu tournedor com foie gras.

Nas duas casas há diversas opções de massa, carnes, peixes e até sanduíches para harmonizar com suas extensas cartas de vinhos. No Intervinos, heresia, há também uma carta de cervejas bacana para aqueles que não estiverem a fim de um bom vinho com um bom preço para acompanhar bons pratos num bom ambiente. Já o Le Vin tem seu próprio vinho, um Cabernet Sauvignon produzido na Argentina.

Nos dois restaurantes com vinho no nome as sobremesas mantiveram o nível dos pratos. Os crème brûlée estavam ótimos e os ovos nevados que a madame comeu no Le Vin também. Não provei nenhum vinho de sobremesa embora, claro, estivessem nas cartas. O serviço foi atento nas duas casas com alguma vantagem para a de São Conrado pela qualidade das mesas, toalhas e guardanapos. A conta foi parecida nas duas também, R$ 120,00 por pessoa.

Apesar de parecidas em muitos pontos, minha avaliação dá uma vantagem importante para o Intervinos pelo conjunto da obra que é bem mais redondo do que no Le Vin. O ambiente em São Conrado é muito melhor, de mais qualidade do que em Ipanema. A carta de vinhos mais rica em opções que a gente pode comprar num jantar despretensioso. Afinal, com vinho no nome, os dois restaurantes devem querer que seu clientes tomem vinho sempre. Os cardápios se equivalem mas, segundo a madame que é mais exigente do que eu, com vantagem para o Intervinos. Concordo com ela.

Em resumo, para quem se dispõe a atravessar um túnel para comer e beber bem com um preço justo e não faz questão de ver e ser visto, o Intervinos é hoje sem dúvida uma das melhores opções da cidade. Dá até para desculpar seu nome.


Intervinos
Estrada da Gávea, 698,
São Conrado
21 3322.6962
www.intervinos.com.br

Le Vin
Rua Barão da Torre, 490
Ipanema
21 3502.1002
www.levin.com.br

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4.6.09

Três meses depois, três Tempranillos

Se alguém acha que vou começar explicando porque faz tanto tempo que não posto nada aqui está muito enganado. Então vamos começar logo a recuperar o tempo perdido.

A segunda degustação cega do Bistrô, como vocês vão ver, exigiu muito mais dos degustadores do que a primeira. Ao contrário da degustação de cervejas, quando o importante eram as opiniões dos supostos experts, nessa aqui tinhamos que "descobrir" o que estávamos bebendo.
Tudo bem que descobrir é um pouco forte porque não foi exatamente uma degustação cega, era no máximo míope, o que não tira seu valor.
Juntei na mesa de casa três casais amigos e três Tempranillos espanhóis de regiões diferentes, inclusive os casais pois um deles era semi-paulistano. Arrumei os seis lugares e coloquei dezoito taças na mesa já seguro que de que talvez nem todas voltariam para o armário. Com mais os copos e jarras de água e as cestas de pão já dá para imaginar como ficou a mesa.

Comecei apresentando a uva da noite, uma típica espanhola que tem esse nome exatamente por poder ser colhida mais cedo, mais "temprano". Ela não é uma grande estrela no showbiz do vinho, mas casa muito bem com diversos tipos de comidas, o que para mim é um grande atributo. E por algum motivo que desconheço, começou a aparecer bastante em diversos supermercados por aqui.

Depois apresentei os três cavalheiros. Um Clos Torribas 2004 recém comprado, um Rioja Campillo Reserva 2002 e um Raimat Costers del Segre 2001 que tinha guardados em casa. Nada de decantador nem filtro. Botei eles na geladeira por quinze minutos e quando abri estavam todos a dezesseis civilizados graus.

No impresso que preparei para cada um na mesa, além de um pouco de história e da tabela para a degustação havia três descrições que não identificavam o vinho aos quais ser referiam. Por exemplo:

Vinho 3 – 100% Tempranillo. Cor vermelho cereja profundo. Sedutores aromas de pimenta preta, cedro, cereja e ameixa preta com especiarias no palato. Aveludado, potente e equilibrado acabado. Elegante na boca desenvolvendo tons de café e licor.

A brincadeira consistia em casar corretamente o vinho com alguma das descrições. Não é cega, é só míope, sacaram? Posso garantir agora que a degustação míope é tão boa quanto a cega.

Servi o primeiro vinho mas ninguém foi capaz de provando apenas um reconhecer a qual descrição se referia. E como nenhum de nós nem de longe entende alguma coisa do assunto, para chegar à conclusão de quem era quem foi preciso provar os três vinhos e encontrar em algum deles algum traço de uma das descrições apresentadas. Bebe-se muito mais assim. Discute-se muito mais também, com cada um verbalizando aromas e sabores e relendo cada descrição em busca de uma indicação qualquer que diferencie cada vinho na boca.

Quando abri o envelope que identificava cada vinho, quatro de nós tinham acertado todos, ficando os dois mais entendidos com apenas uma resposta certa.
Os que acertamos usamos a mesma estratégia: buscar uma característica única em cada vinho, que só existisse nele e que, claro, fosse de fácil identificação. Não adiantavam aromas de cedro e cereja, mas um aroma de pimenta preta que pica o nariz foi o que casou o Vinho 3 com o Raimat.

Mesmo sem a condução segura de um Célio Alzer como fizemos no Bazzar, conseguimos de forma caseira e totalmente empírica - e que consome uma quantidade de vinho muito maior - identificar características de cada garrafa e unanimemente escolher o Clos Torribas como o melhor vinho da noite mostrando que um pouquinho de Cabernet Sauvignon não faz mal a ninguém.

Forramos o estômago com tortilhas de batata e sobrassada e sorvete com calda de chocolate quente.

Como vocês estão vendo, posso passar três meses sem aparecer por aqui, mas de jeito nenhum deixo de comer e beber bem e de principalmente me divertir com isso.


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