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29.9.08

Os Malfeitores

O Bistrozinho aqui não é conhecido exatamente por defender uma alimentação natural, equilibrada e sem excessos. Até diria que se tivesse que escolher algum lado, escolheria o oposto. Mas, ao mesmo tempo, a gente não é idiota e da mesma maneira que detesta ser enganado por empulhações gastronômicas, adora quando alguém usa seus dois neurônios para esculhambar com o que merece ser esculhambado. Principalmente quando isso acontece com um ícone da comida moderna.

Karen Hanrahan é uma professora de nutrição que ensina os pais a fazer seus filhos comerem melhor. Nessas aulas ela leva como exemplo - mau exemplo, claro - um hambúrger do Mc Donald`s para mostrar que ali não há nada nutritivo, que é pura química, que não acrescenta nada à saúde de ninguém e aquele blá-blá-blá que todos nós conhecemos. Até aí, vocês dirão, nada de novo. O ponto interessante é que o hambúrguer que ela leva para suas aulas foi comprado em 1996 e é um desses dois aí da foto. O outro é fresquinho. Alguém sabe dizer qual deles tem 12 anos?
Pois é, contra fatos não há argumentos.

Embora pareça presunçoso querer juntar num mesmo post, boa alimentação e Anthony Bourdain (quem acompanha a carreira dele sabe do que estou falando) reproduzo aqui um parágrafo do seu último livro, Maus Bocados, de onde tirei o título desse post:

Da próxima vez que se encontrar parado, de queixo caído e faminto diante de um balcão de fast-food - e se houver um palhaço por perto -, simplesmente gire os calcanhares e se dirija para o operador independente, o lobo solitário mais adiante na mesma rua: uma casa de tortas, de fritas, de kebab, ou, em Nova York, um "carrinho de cachorro quente" em qualquer lugar que o proprietário tenha um nome. Mesmo essa amada instituição britânica, a chippie, é preferível ao negócio do palhaço; pelo menos você está estimulando o negócio local, individual, um empresário sensível às necessidades de vizinhança, em vez de um sistema ditatorial em que algum grupo de discussão num parque industrial em Iowa decide por você o que você vai ou deveria querer comer. Bacalhau frito ou linguado com vinagre, haggis com molho de curry; eles podem não ser o ápice da alimentação saudável, mas ao menos são nativos de algum lugar - e, se engolidos com bastante cerveja ou Irn-Bru, são bastante saborosos. A casa de kebab faz comida que é, ao menos, fresca, e um shawarma de carne bovina não requer adição de aroma de carne para ter gosto de comida.
Sempre que possível, tente comer comidas que vêm de algum lugar, de alguém. e pare de comer demais.

Anthony Bourdain não é exatamente o exemplo de alimentação saudável, ele até faz questão de se apresentar assim e nem acredito que ele faça tudo o que diz, mas que ele escreve e come bem, isso ele faz.

PS: O hamburger mais velho que do que o meu sobrinho é o da esquerda. Parece até mais apetitoso que o da direita, não?


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24.9.08

A esquina e o livro - 1

Embora livros de culinária e gastronomia pipoquem quase mais do que os de auto-ajuda, há um tipo - que os americanos chamam de food-novel - que não é muito encontrado por aqui.
Food-novels são ótimos tanto para quem já gosta de comida como para incentivar os tímidos a começar a gostar. Em geral são romances ao redor de um prato, uma região produtora de algum vinho, de um produto, chef ou restaurante. Juntam duas das coisas que eu mais gosto, o que é fabuloso. Acho até que comecei a me interessar por comida lendo um romance desses, talvez antes mesmo de existir essa classificação.
Mesmo fugindo um pouco, só um pouco, da linha editorial do Bistrô e lançando o primeiro post em capítulos daqui deste humilde espaço, quero contar para vocêss a história desse livro. Não a história que o livro conta, mas a minha história com esse livro. Começa assim:

A esquina e o livro
Parte 1

Toquei nele com mãos de felicidade. Sorriso nos lábios, antes de abrí-lo fiquei pensando quanto tempo tinha investido na procura daquele título pelos sebos, feiras e amigos nos últimos anos.
Hoje, de uma maneira que eu nunca poderia imaginar, caiu nas minhas mãos esse livro que há pelo menos uma década queria tanto reler. Mal sabia eu que além da trama escrita, de um agente secreto gourmet durante a segunda guerra, aquele monte de páginas amareladas tinha a sua própria história e eu como um dos protagonistas.
A primeira vez que o li tinha uns vinte e poucos anos, quase vinte anos atrás. Apesar de não ser um daqueles clássicos, vendeu e continua vendendo bem até hoje. Lembro-me que gostei muito da história que mistura ação, viagens e gastronomia. “Nem Só de Caviar Vive o Homem” não é um livro fundamental, mas reúne muitos elementos que dão prazer ao leitor e, para um projeto de escritor como eu, analisar a técnica de um best seller é um ótimo exercício. Melhor ainda quando trata de assuntos como viagens e gastronomia que me interessam independente de estarem dentro de um bom livro ou numa revista de banca de jornal. Foi a lembrança de um texto que amarrava tão bem esses temas, que me fez tentar reencontrá-lo durante tanto tempo.
Um aspecto interessante da minha busca foi que eu não queria encontrar uma edição nova, mas sim um livro usado por um motivo muito simples: não queria gastar dinheiro num livro que era só uma grande expectativa pessoal; e se ela não fosse correspondida, se eu, na terceira página, me perguntasse o que estava fazendo com aquele monte de papel na mão? Seria o próprio anticlímax, total frustração. Muito mais divertido continuar procurando em sebos, com a memória não muito clara de um bom livro. Hoje vejo que ter mantido esses princípios valeu muito à pena. Vocês vão concordar.
Pensava nisso tudo com o livro nas mãos, sentado no sofá da casa da minha namorada. Nós dois estamos juntos há pouco mais de cinco meses, mas nos conhecemos há mais de vinte anos. Naquela época fomos algo mais que simples amigos, éramos os melhores amigos, unha-e-carne. Depois de anos de amizade intensa, algum motivo nos separou e nos manteve assim por quase dez anos.
É apenas uma coincidência que eu a tenha conhecido na mesma época que li o "Nem Só...", como é apenas coincidência eu estar aqui sentado na casa dela com um exemplar usado do livro que procurei por tantos anos. Mas esta é uma história onde a coincidência, ou o destino, é outro protagonista.
A verdade é que eu tinha apenas uma vaga idéia de como o livro havia chegado pela primeira vez nas minhas mãos e da história que ele contava. Lembrava apenas que era sobre um elegante agente secreto que, entre uma missão e outra, prepara pratos elaborados, descritos com detalhes, e que de alguma maneira lhe ajudam a resolver seus problemas. Isso bastava para eu querer tanto relê-lo.
Com Cláudia, minha namorada, foi um pouco diferente. Eu me lembrava muito bem dela, de como éramos amigos e confidentes. De como anos atrás vivemos um romance curto, mas intenso e de como eu sentia falta da minha grande amiga. E da mesma forma que o livro, imaginava que ela também poderia ter mudado muito nesses anos, mas como não tinha expectativa nenhuma de encontrá-la, o pior que poderia acontecer nesse caso seria um simples desapontamento. Eu poderia olhar para ela e só reconhecê-la fisicamente sem ver nenhum traço do nosso passado. Felizmente, o que aconteceu não foi nada disso...

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