L, de lula
A gente aqui no Bistrô só
fala do que gosta, mesmo quando o que gosta tem duplo sentido, mesmo quando tem
uma versão que a gente detesta. Já falamos muito de hamburguer e pizza,
que a gente adora, embora sejam pratos cujos nomes foram mais do que
vilipendiados. Foi o que também aconteceu com a lula, que é uma das poucas palavras que
têm mais valor com a inicial minúscula.
lula é fácil de pescar, agarra
qualquer coisa que brilhe. O problema é limpar, pois é escorregadia como um
sabão e escapa até das mãos mais habilidosas. Apesar de ser um típico prato da
cozinha mediterrânea, lula tem no mundo
todo e em restaurantes das mais diversas especialidades, de japonês a italiano. No Japão, como no
Brasil, existe uma variedade conhecida como vagalume, que acende e apaga
conforme a necessidade e o momento. Aqui ainda não chegamos a tanto, mas lá tem
até museu para essa espécie.
lula quase não tem cabeça
e é praticamente oca. O corpo da lula é quase vazio, com um puxão bem dado você
remove as entranhas e a frágil espinha dorsal. Cuidado para não romper a bolsa, que
no molusco tem dentro uma tinta negra usada para fazer o famoso “calamares en
su tinta”, a versão marítima do frango ao molho pardo, e o arroz negro, prato popular
em toda a costa mediterrânea da Europa.
lula tem tentáculos. Sem
eles a lula não vive nem se reproduz. Carnívora, é com seus tentáculos que ela
agarra e mata as presas. Dois deles são órgãos reprodutivos. Fritinhos na
frigideira pegam todos um tom avermelhado e ficam bem crocantes.
lulinha na Espanha é
chamada de Chipirones, prato delicioso e amado no país inteiro. Nunca reclama
quando colocada na chapa quente com alho, azeite e salsinha. Confessa logo que
é enriquecimento lícito mesmo.
lula vai com qualquer um.
Minha humilde opinião é que na maioria das vezes vai melhor com um vinho branco
sem fruta, exceto quando tem a sua tinta colocada na preparação. Aí muda tudo e prefiro
acompanhar com um tinto que nem precisa ser tão leve assim.
lula não mente jamais. É
aqui que o molusco se diferencia do seu par com maiúscula. O molusco é
verdadeiro, não se esconde nem se omite quando misturado aos seus primos mais
ricos como camarão e lagosta, seu paladar e texturas são únicos. Absorve
sabores como poucos e resiste muito bem a barbeiragens na panela. Não se acha
melhor do que ninguém, ao contrário, acha que todos contribuem para fazê-la
melhor. Alho, azeite, shoyo, mel, pimenta, caldo, arroz, massa, tomate, são
todos seus melhores companheiros.
Como não sei se em
outubro a gente vai conseguir fritar devidamente quem merece, melhor garantir
logo. Essa é o que entendo ser a segunda melhor maneira de fritar lula:
2 lulas frescas, limpas e inteiras
Um bom azeite extra-virgem
Três dentes de alho picados
Sal grosso médio (eu compro o de churrasco e bato no processador)
Salsinha muito picada
Faça cortes transversais no corpo da lula
Numa frigideira ou grelha quente com azeite coloque-os junto
com os tentáculos e uma pitada generosa de sal
Misture os alhos picados, com sal, salsinha e azeite e jogue
por cima da lula na frigideira.
Vire e revire até pegar cor
Sirva e jogue mais um pouco da mistura em cima.
2 Comments:
Sensacional!!!!
A lula com l minúsculo é, de fato, uma maravilha da natureza. Já a outra versão, com l maiúsculo, é uma excrescência que não deveria existir nem no inferno mais infernal.
Amei!
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