Restaurantes e vinhos: a rolha é o que nos resta
- por Gustavo Mansur
A
ídeia inicial é sempre mais ou menos a mesma quando entro em um restaurante de
São Paulo ou Rio de Janeiro, comida pede um bom vinho. Só que ao abrir a carta
de vinhos entregue pelo garçom vem a decepção.
A lista é de vinhos apenas
regulares, daqueles que normalmente os especialistas costumam recomendar para o
"dia a dia". São aqueles rótulos que se encontra nas prateleiras de
média altura do supermercado ou no fim da lista das importadoras. Já os preços
não são nada regulares, normalmente abusivos. O normal é encontrar o valor 100%
acima do que seria pago em um supermercado ou loja especializada.
E
não adianta tentar encontrar a melhor relação custo/benefício, ainda assim o preço
vai ser tão alto para o que vale a garrafa que eu acabo pedindo um suco ou
ficando só na água mesmo.
Não
consegui ainda entender se tudo começa com a ganância pura e simples dos
proprietários dos restaurantes ou se realmente existe uma matemática louca que
torna o preço dos vinhos tão altos. Mas considerando que existem exceções,
raras mas elas existem, só consigo concluir que são os proprietários que se
aproveitam da falta de conhecimento geral dos consumidores sobre vinhos e
martelam no preço. E para os que possuem algum conhecimento de vinhos e dos
preços de mercado qualquer carta acaba parecendo sempre um assalto.
O
resultado é que a prática da rolha deixou de ser uma extravagância para se
tornar algo corriqueiro. Pelo menos para mim a rolha começou a valer muito mais
do que beber algum vinho regular com preço nas alturas. O custo da rolha nos
restaurantes de São Paulo que frequentei nos últimos meses fica sempre em torno
de R$ 40,00. Em uma situação extrema lembro de ter pago R$ 60 pela rolha. Mas
já vi restaurantes que cobram até R$ 95,00 o que claramente é um abuso, mas
mesmo assim ainda pode ser compensador. O bom senso é o estabelecimento cobrar
o valor do vinho mais barato da carta. Mas como não existe regulamentação
alguma, alguns restaurantes valorizam a rolha como uma forma de coibir a
prática.
Pra
mim a solução ficou viável sempre seguindo alguns cuidados básicos. O primeiro
e principal é sempre ligar antes para o restaurante e confirmar que eles
aceitam o seu vinho. As vezes pelo telefone você já consegue perceber se vai
ser bem bem recebido no local. Já vi muito maitre me olhar torto quando chego
com vinho na mão.
Nunca
levo para o restaurante um vinho comum, que possa mesmo remotamente estar na
carta do lugar. Se você vai levar um vinho, escolha aquele que trouxe de uma
viagem ou algo que seja um pouco mais raro e fora da lista padrão que as
importadoras mandam para os restaurantes. Se você prestar um pouco de atenção
nas cartas de vinho vai perceber que elas seguem um padrão e os vinhos se
repetem bastante. Passar no supermercado e comprar um vinho antes de ir para o
jantar então, nem pensar.
Outro
ponto que faz diferença é chegar com o vinho na temperatura em que ele será
servido. Evita a chateação de convencer o sujeito a esfriar o vinho para você.
Para
não bancar o enochato, eu evito levar vinho quando estou saindo com amigos com
quem não tenho tanta intimidade. E mesmo para os que tenho costumo avisar antes
que vou oferecer uma garrafa especial ou diferente. Não pega bem chegar já
impondo seu gosto. Se quer beber um bom vinho em um bom restaurante com amigos
tente indicar algum lugar que conhece e sabe que tem uma carta de vinhos
honesta e variada.
Se
eventualmente o restaurante tiver um sommelier e se ele se mostrar amigável
ofereça a ele a oportunidade de provar o vinho que você levou. Você vai
perceber se ele se mostrar interessado e perguntar sobre o seu vinho. Fique
tranqüilo pois o sujeito não vai encher uma taça até a boca. Normalmente ele
vai apenas pegar uma taça de degustaçãoe servir uma pequena dose. Se o sommelier
for dos bons pode até completar com informações sobre o que você está bebendo
tornando a degustação mais divertida.
Lembro
dos tempos em que levar vinho para restaurante era uma situação bizarra. Nas
primeiras vezes que fiz isso me senti um pouco exótico mas aos poucos fui
percebendo que os estabelecimentos já se habituaram com a prática. Sinal de que
não estou sozinho e tem mais gente trazendo vinho de casa. Não estou seguro se
foi o preço da rolha que ficou mais aceitável ou se o custo do vinho no
restaurante é que ficou nas alturas. De qualquer forma faça as contas e você
vai entender que vale a pena.
Marcadores: Vinhos
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