A Senhora de Toses
Uma fábula infantil, que tem tudo a ver com o que a gente pensa e discute aqui, retoma as atividades do Bistrô que andou meio em banho-maria nos últimos tempos.
Diz a lenda, que em um país muito distante, do outro lado do oceano atlântico, no topo de uma linda montanha, ao lado de um pequeno vilarejo cercado de parreiras, havia o belo Castelo de Toses. Sua dona era uma rica senhora para quem, de tão acostumada ao luxo e à boa vida, qualquer refinamento lhe parecia pequeno.
Diz a lenda, que em um país muito distante, do outro lado do oceano atlântico, no topo de uma linda montanha, ao lado de um pequeno vilarejo cercado de parreiras, havia o belo Castelo de Toses. Sua dona era uma rica senhora para quem, de tão acostumada ao luxo e à boa vida, qualquer refinamento lhe parecia pequeno.
Muito gulosa, a boa mesa era sua perdição. A Senhora de Toses só gostava dos acepipes mais raros, dos pratos mais elaborados, dos preparos mais complexos. Poucos cozinheiros suportavam suas exigências por ingredientes cada vez mais incomuns para satisfazer seu exigente paladar. Os grandes banquetes que promovia eram conhecidos em toda a região pela fartura e riqueza dos pratos servidos. Parecia que a fortuna da Senhora de Toses era sem fim.
Certa vez, um dos cozinheiros, exausto de tentar agradar sua senhora, a convenceu que cérebros de canários eram uma iguaria finíssima e muito apreciada na realeza do país. A Senhora de Toses deliciou-se com o prato até que seu principal ingrediente não mais pudesse ser encontrado. O cozinheiro também não foi mais visto nas cozinhas do castelo.
Veio outro que serviu um ensopado que a Senhora achou magistral. Perguntado sobre o que dava aquele paladar tão único ao prato, o cozinheiro disse que o sabor apreciado vinha das carnes especialmente selecionadas de carneiros negros, mas somente os negros, usadas no seu preparo. Desde esse dia a Senhora não aceitava comer nada diferente do delicioso ensopado. Em pouco tempo acabaram-se os carneiros negros do seu rebanho e depois os dos rebanhos vizinhos.
O ingrediente ficou tão raro e caro que a Senhora de Toses começou a vender suas posses para poder trazer de longe os carneiros negros necessários e assim satisfazer a sua interminável gula. Acabou por arruinar-se completamente. Seus credores e fornecedores ficaram com os poucos bens que restaram. Inclusive o seu castelo.
Pobre e sem nada para comer, a antiga Senhora de Toses teve que mendigar pelo vilarejo que um dia foi todo seu. Em uma das casas onde pediu comida lhe deram um pedaço de pão e um punhado de nozes.
Enquanto comia aquele simples pão com nozes as lágrimas corriam pelo seu rosto. Quando alguém passou e lhe perguntou o que estava acontecendo, ela respondeu lembrando-se do seu infortúnio: “Se eu soubesse que era tão bom pão com nozes, eu ainda seria a Senhora de Toses”.
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Esta é uma fábula tradicional na região do Alt Penedés na Catalunha - onde o castelo e a família Tous existem, eu já estive lá - e foi livremente adaptada para o português. Se quiser conhecê-la no original, clique aqui.
A ilustração é da Manu.
6 Comments:
Chico,que lindaaaaaaaaaaaaaaa ilustração.
E bem feito pra dona,q não sabia aproveitar um bom arroz com feijão.
bjosss Gisele.
Que bom que vc voltou!
Sensacional, Paco!... Muitas vezes temos pertinho de nós tudo aquilo de mais preciosao e mais gostoso. E muitas vezes vamos em busca de fantasias que apenas colocam em risco aquilo que já possuimos. Excelente fábula!...
Paco, ótima lição, não só pros pequenos, mas também pra nós, marmanjos, que às vezes nos esquecemos de que o requinte também mora na simplicidade.
Vou deixar um convite pra você ir conhecer o meu site-blog sobre gastronomia: www.praquemquisermevisitar.com
Abraço,
Constance.
Belíssima história.
Que gracinha, Paco!
Adoro ler teu blog r, fico feliz com sua volta.
Continue escrevendo SEMPRE!
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