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31.1.07

Refogando egos

Talvez alguma leitora do Bistrô tenha, como eu, acompanhado a cobertura do evento gastronômico Madrid Fusión. Além do blog e da coluna do Josimar Melo que esteve lá, li sobre o evento em algumas outras publicações e fiquei impressionado pelo maniqueísmo que se estabeleceu. Todos só falavam do duelo entre as correntes do Ferran Adriá e do Santi Santamaría, dois chefs catalães e três estrelas. Além das picuinhas (em termos de egos e de cozinha) naturais entre grandes cozinheiros vizinhos, os dois apontam caminhos opostos para nossos pratos: o primeiro defende a alta cozinha do futuro, com técnicas, equipamentos e preparações ultra-avançadas e o segundo a alta gastronomia atualizada e evoluída naturalmente. Por isso o que mais me chamou a atenção nas coberturas que acompanhei é que pouco se falou de comida e muito se falou de chefs.
O culto à personalidade dos chefs é um das coisas mais chatas que a popularização da gastronomia trouxe. Enquanto antigamente a gente ia a um bom restaurante comer um determinado prato que o cara lá prepara como ninguém, hoje, quem procura gastronomia, em geral vai ter que comer o que o fulano ou a cicrana prepararam no restaurante deles, seja lá o que for. Um exemplo disso são os diversos “convites” para jantares de degustação com chefs famosos que recebo onde há a biografia e os prêmios que o chef ganhou e o preço do jantar, mas não há o menu a ser provado. Isso parece que passou a ser irrelevante.
Nada contra novas experiências e boas surpresas, mas sem exageros. A gente vai a restaurantes principalmente comer bem, e chefs sabem colocar na mesa sabores e texturas que nós jamais conseguiremos fazer. Evoluir é muito importante e há os profissionais que tomam para si esta função, mas não é necessário transformar uma refeição em um espetáculo, não precisa fazer da cozinha um púlpito de pregações para justificar o que se coloca ou não no prato, e, principalmente, é descabido pensar que qualquer corrente gastronômica sairá vencedora porque, pelo menos entre nós clientes, não há guerra nenhuma, muito pelo contrário, queremos mais é poder escolher.
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27.1.07

Chinesa original

Ainda bem que os chineses daqui sabem o que nós ocidentais entendemos por "comida chinesa". Para os chineses de lá, essa expressão se aplica a uma cozinha completamente diferente. Essas fotos que recebi de um amigo são de um mercado de rua em Pequim. Não tem pato laqueado nem camarões empanados e os espetinhos com certeza não dão vontade de abrir um restaurante chinês no Rio para poder comê-los todos os dias. Clique nas imagens se quiser ver os detalhes e bom apetite.

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25.1.07

O chinês do Batista

O convite irrecusável do meu sogro tinha como objetivo principal provar o famoso pato laqueado da casa, mas acabamos fazendo bem mais do que isso.
De fora o Mr. Lam já impressiona, mas as enormes janelas viradas para a Lagoa são muito mais bacanas vistas de dentro. O salão principal com pé direito duplo, cores sóbrias, balcão de acrílico vermelho e grandes luminárias de fitas de cetim colorido consegue ser elegante sem ostentar. Não há como sentar mal, de um lado você tem a vista do belo e amplo salão, do outro a Lagoa iluminada.
Os eficientes e simpáticos garçons conhecem bem os pratos e além disso têm sempre um historinha para contar sobre os chineses importados na cozinha e a experiência em conviver e trabalhar com eles. Aqui cabe um parêntese: isso de ter chinês de verdade na cozinha é velho, mas o Rio estava tão carente de restaurantes chineses que a gente esqueceu que quase todos os que já existiram aqui, como aquele em um sobrado na esquina da Bolívar, tinham chineses originais na cozinha. Nesse de Copacabana me lembro que o maitre também era chinês e mal falava português, a gente apontava o prato no cardápio.
No menu do Mr. Lam não vi arroz colorido nem barbatana de tubarão – figuras fáceis nos antigos chineses - mas os pratos em geral são aqueles familiares ao lado de várias criações, releituras e novidades.
Como éramos quatro, optamos pelo menu degustação que inclui o pato laqueado. Há outros dois menus desse tipo, e para quem quiser dar uma geral nos pratos da casa são as melhores opções.
O repasto começa com rolinhos de alface recheados de frango bem temperado, molho de soja com açúcar mascavo e uma couve cortada fininha, temperada e frita de um maneira que fica muito crocante e com sabor de alga. Detalhe: o rolinho é montado com as mãos por nós mesmos, o que além de inesperado em restaurantes desse nível, é ótimo para quebrar o gelo. Depois chegaram dumplings vegetarianos e de camarão com carne de porco, o Chicken Satay, espetinhos de frango tingidos de vermelho e cobertos com um molho cremoso e suave - que segundo a lenda é a razão da existência do Mr. Lam no Rio - e os rolinhos primavera de legumes que não podem faltar em nenhum chinês. Tudo muito bom.
A seguir comemos três pratos mais encorpados: os camarões Mr. Batista, grandes, levemente empanados e com molho apimentado, um filé mignon sensacional, Ma Mignon Mr. Lam, macio por dentro e crocante de verdade por fora e um frango picante em cubos. Para mim os destaques foram os rolinhos de alface que, confesso, antes de provar não levava nenhuma fé, os camarões do dono e o filé do chef.
Então, pouco antes das onze da noite, a música e o serviço foram interrompidos para uma demonstração. Um dos chineses importados se coloca com um bolo de massa branca na frente de uma mesa no centro do salão para fazer noodles sem nenhum outro equipamento a não ser as próprias mãos. Ele vai dobrando, enrolando e esticando a massa várias vezes em rolos cada vez menores até que, como mágica, ela se torna um feixe de fios de macarrão, um pouco mais finos que um linguini, perfeitamente iguais. Todo o salão que estava em silêncio aplaude embasbacado enquanto o maitre leva uma amostra dos noodles em cada mesa para vermos de perto. Espetacular.
Retomamos as atividades com o pato laqueado apresentado na mesa inteiro, brilhante e fumegante que é levado de volta para a cozinha e reaparece fatiado e acompanhado de panquequinhas levíssimas servidas na vaporeira, molho de shoyo com açúcar mascavo e tirinhas de cebola e pepino. Acabamos o menu da mesma forma que começamos, usando as mãos para fazer rolinhos de panquecas recheadas com fatias do pato que é muito saboroso e completamente diferente de um assado tradicional. A casquinha de pele doce e crocante pode não agradar aos mais preocupados com o colesterol, o que não é o meu caso, mas é deliciosa. Quem faz cara feia e não come perde muito. Acompanhando tudo isso um Ducru-Beaucaillou Saint-Julien 1990 espetacular e perfeito para o pato.
Para arrematar, lichia com calda de gengibre, café e chá verde que disseram estar maravilhoso.
Antes de sair subimos para conhecer os outros dois andares da casa, um mezanino e o terraço onde há vista para o Cristo Redentor e Lagoa, e que numa noite fresca é o melhor lugar do restaurante. Na descida ainda fomos visitar a cozinha que parece pequena para o tamanho do restaurante. São uns 50m2 onde devem trabalhar uma dúzia de cozinheiros e ajudantes. O fogão não é nada parecido com algo que eu já tenha visto, são oito bocas gigantes com uma intensidade de fogo impressionante sobre as quais só há woks. Para se ter uma idéia, tem que ser refrigerado a água para não “derreter”.
O menu degustação do Mr. Lam já seria ótimo por si só, mas com o belíssimo ambiente da casa na Lagoa, show dos noodles e ótimo serviço, faz um conjunto como poucos lugares da cidade conseguem. Aliás, parece que como poucos lugares do Brasil, já que na noite do último sábado a casa estava cheia de paulistas. O Sr. Lam e o Sr. Batista estão de parabéns.

Mr. Lam
Rua Maria Angélica, 21 - Lagoa
Tel.: 21 2286.6661
Rio de Janeiro

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23.1.07

A Chef e o chato

Não dá para negar que a vida moderna nos tirou certos prazeres.Talvez um dos maiores era receber dos amigos pelo correio cartas e cartões daqueles de papel com selos e carimbos, lembra? Mas ao mesmo tempo em que esse prazer praticamente acabou, a mesma vida moderna traz agora pelo mesmo correio outras coisa tão interessantes quanto: livros do Submarino, Amazon e dessas livrarias virtuais todas. Você vai ao site, escolhe o livro, vê a capa, lê a resenha e às vezes até um pedaço do texto, clica em comprar, senta e espera chegar. Só não é melhor do que fazer isso na livraria de verdade, mas tem muitas vantagens. Não é ótimo chegar em casa e ter um pacote com aquele livro te esperando? É tão bom quanto uma carta.
Da última vez que fiz isso, chegou um pacote com dois.
Um era o do francês François Simon, apresentado como o crítico gastronômico mais temido da França. Comprei seu último livro, Comer é um Sentimento, querendo descobrir porque ele tem essa fama. Pensei que ia encontrar textos cheios de verve e crítica dos melhores restaurantes e chefs franceses, mas fui enganado. O livro é uma coleção de Lições (assim mesmo com maíscula), que estão até numeradas e seguem uma ordem lógica, começando por “Olhe-se” passando por “Abra os ouvidos” e indo até “Acolha a doçura”. O livro é chato. Em nenhum momento Simon mostra qualquer motivo nem atitude para que os chefs franceses tenham medo dele. Ao contrário, tem um texto doce, quase afetado, e que parece estar falando para crianças. Não gostei. Confesso que a partir de certo ponto fui pulando páginas atrás de alguma coisa que prendesse minha atenção, mas nem as poucas receita perdidas pelo livro são atraentes. Se eu fosse o bonequinho da crítica de cinema do O Globo, estaria dormindo na poltrona.
Já o outro livro do pacote não precisou de três páginas para me prender. Ele é a versão encadernada daquele tipo de cardápio em que você fica na dúvida do que escolher porque tudo é bom. Carlota - Balaio de Sabores da Carla Pernambuco é um livro de receitas com ótimo texto e excelentes fotos. Dividido em doze capítulos, Carlota começa mostrando os pratos que fazem sucesso nos seus restaurantes, continua com diversos pratos brasileiros simples como picadinho e cocada, passa por comidas do mundo, exóticas, de regime, responsáveis e rápidas e termina com sobremesas, caldos e molhos. Às vezes parece que ela abusa dando receitas de bife a cavalo, farofa e bolo formigueiro, mas o livro é todo tão coerente que fica perfeito. Em cinco minutos tornou-se o meu livro de receitas favorito da vez. Recomendo com veemência tanto para quem já sabe cozinhar como para quem quer começar por cima.
Apesar de toda modernidade da compra virtual, quando o livro da Carlota chegou pelo correio, foi como receber uma carta daquele amigo de infância que está morando longe e quer dividir as novidades com você. Quase como nos velhos tempos.

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19.1.07

Primeira chef 3 estrelas

Parece até implicância com as mulheres vinda de um fábrica de pneus, mas fiquei impressionado quando descobri que só agora na edição de 2007, pela primeira vez, a Guide Michelin concedeu três estrelas para um restaurante conduzido por uma mulher.
A honra mais do que atrasada coube à chef Anne-Sophie Pic de 33 anos, do Maison Pic em Valence, França. Confesso que nunca tinha ouvido falar nem dela nem do restaurante mas, pelo que li, na França há poucas mulheres merecedoras dessa tão almejada terceira estrela. Dizem que ela muda a vida de todo chef, para o bem e para o mal.
Parabéns para a Anne-Sophie já que não deve ser fácil aparecer em um mercado tão masculino, mas, pelo menos por aqui, as mulheres têm se destacado mais do que nunca e merecem estrelas há muito tempo. Ano passado a Roberta Sudbrack ganhou todos os prêmios possíveis com aquele jeitinho mineiro e uma simplicidade na cozinha que só os grandes conseguem ter. A Flávia Quaresma com aquela simpatia toda há anos renova seu Carême que fica cada vez melhor, e a Silvana Bianchi faz uma cozinha italiana moderna e criativa como poucos. Isso só para citar três mulheres três estrelas - na minha modesta opinião - no eixo Jardim Botânico/Botafogo.
Não ligo muito para essas classificações de guias, acho que elas acabam criando uma expectativa que é fácil de não ser alcançada. Prefiro entrar num restaurante completamente desconhecido e ser bem surpreendido. Ao contário dos franceses, comer bem e encontrar uma grande chef na cozinha não é nenhuma surpresa para mim.
PS: O amigo Nopisto me corrige: A primeira e até então única chef 3 estrelas francesa ganhou esta classificação em 1933. Veja lá nos comentários outras chefs com 3 estrelas na Espanha e na Itália.

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18.1.07

Menos uma

Faleceu ontem a melhor cerveja do Brasil. A cervejaria Baden Baden, considerada pelos entendidos e nem tão entendidos assim a melhor cerveja do Brasil, foi comprada ontem pela Schincariol....
O diretor da Schin disse que a formulação da atual linha de produtos e o modelo de produção artesanal da Baden Baden não serão alterados.
A recomendação do Bistrô é que você corra ao mercado mais próximo e compre quantas caixas de Baden Baden puder beber nesse verão. Só para garantir.

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14.1.07

Vinhaços

Não é à toa que o mercado de vinhos é um mundo paralelo, uma outra dimensão. Enquanto um jantar num dos melhores restaurantes do mundo, feito por um chef prá lá de reconhecido, premiado, testado, resenhado e principalmente provado sai por volta de US$ 500, há vinhos com quase cem anos, sem garantia nenhuma de que estejam vivos, valendo mais de US$ 100.000 a garrafa e com fila de gente atrás dela.
Foi o que aconteceu em outubro num leilão em Nova York, onde garrafas magnum de Romanée Conti 1919 saíram por US$ 101.575 cada uma e o lote de meia dúzia de Roumiers Bonnes Mares 1923 foi arrematado por US$ 113.525! Olhando assim, o que esses caras estão comprando é quase um bilhete engarrafado de uma loteria que só vai correr quando a garrafa for aberta. Por isso, nesse mercado não só o vinho vale muito, mas seu histórico também. Quem produziu, quem comprou, quem guardou, quem vendeu e principalmente quem já bebeu.
Imagine a cena: o comprador da meia dúzia de Bonnes Mares entra no melhor restaurante de NY com duas dessas garrafas “de baixo do braço” pronto para abri-las ao lado de um prato que faça jus à bebida. O sommelier, que raramente na vida tem oportunidade de colocar as mãos num vinho daqueles, prepara tudo para que a experiência seja perfeita e quando abre a primeira garrafa....nada, nem a cor se salva. A expectativa cresce para a segunda garrafa, que infelizmente também não está boa. O que fazer com aquelas outras quatro na adega de casa? Vender rápido, diriam os mortais. Mas na certa, alguém que compra vinhos nesse nível já deve ter tido várias experiências assim e deve ter tantos bilhetes de loteria na adega de casa que sabe que esta é uma das regras do jogo.
Aqui no meu mundo real, imagino que esses caras quando arrematam um vinhaço desses devem estar querendo na verdade comprar uma memória, a lembrança de um sabor e de um momento inesquecíveis depois que terminam a garrafa. Alguns deles talvez bebam sozinhos, não deixando que nenhum fator externo atrapalhe, outros ao contrário, compartilham com os amigos e complementam o vinho até com alguma comida. Outros ainda devem morrer esperando pelo momento certo de abrir uma garrafa.
Se eu fosse um desses fanáticos, com certeza seria como o vendedor desses vinhos que citei no início. Ele está vendendo porque quer passar a colecionar para beber, não para guardar. Por isso está trocando parte da sua adega pelos vinhos que melhores momentos lhe trouxeram, seja abrindo uma garrafa sozinho no escuro da adega, seja em uma celebração qualquer que, como qualquer celebração, sempre merece que se abra um bom vinho para ajudar a ser lembrada. E isso, não tem preço.

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11.1.07

Duas lá do Norte

Thomas Keller, que é o único chef americano com dois restaurantes 3 estrelas no Michelin, o French Laundry e o Per Se, abriu em Setembro uma nova casa com uma proposta que só um cara com esse pedigree pode fazer.
Segundo ele mesmo diz, o Ad Hoc já nasce com seus dias contados, só que nem ele sabe quantos dias são. Pode ser que feche amanhã ou que na páscoa ainda esteja aberto. Tudo depende. Mas isso não é o mais importante, o bacana da proposta é que enquanto o restaurante existir, qualquer um pode ir lá quantas vezes puder sem nunca repetir um prato. Além disso, Keller sabe exatamente o que cada cliente vai comer e quantos vão entrar no Ad Hoc, um sonho para qualquer dono de restaurante. Como ele faz isso? O restaurante só aceita clientes com reserva - embora digam o contrário - e oferece só um menu fixo de quatro pratos diferentes por dia. A comida é aquela tradicional americana, com carnes, assados e batatas, elevada ao nível de gastronomia. Outra característica da casa, que confirma seu DNA, é dar preferência aos produtos e produtores da região, como fazem tantos bons restaurantes da Califórnia.
Se por um lado pode parecer desperdício comer um simples assado preparado por um chef estrelado, por outro, a marca Keller é quase garantia de que, seja qual for o menu do dia, por mais simples e caseiro que possa parecer, tem grandes chances de ser daqueles para lembrar por muito tempo. O menu prix fixe custa módicos US$ 45,00 mais bebida, preço de um bom jantar tupiniquim. O menu da foto é de 06/01 e foi tirada pelo Michael Chu do ótimo Cooking for Engineers que esteve lá.

Mais para o norte, em Toronto, tem uma turma que inventou um programa semanal incrível. A idéia deles é jantar em todos os restaurantes da cidade na ordem alfabética em que aparecem nas Páginas Amarelas da cidade. São os Serial Diners. Desde 1989 eles já foram a mais de 400 restaurantes e pretendem chegar na letra Z por volta do ano 2035. O grupo tem em geral 30 pessoas, mas qualquer um pode participar sem nem mesmo fazer inscrição ou reserva, é só olhar a agenda e chegar. Seguindo o alfabeto, algumas palavras como café levaram quase seis meses para serem cobertas e em Janeiro eles estão na letra I onde abundam japoneses e italianos. Até hoje o grupo não perdeu nenhuma sexta-feira, nem quando é Natal, e só deixam de comer em um lugar previsto quando encontram o restaurante fechado ou muito cheio. Decepções devem fazer parte do programa embora o fundador do grupo (na foto com seus instrumentos de trabalho) diz que em geral os restaurantes são no mínimo decentes.
É sem dúvida uma ótima oportunidade de conhecer novos lugares e pessoas, que precisa de um grupo comprometido para ir a diante, mas que parece impossível em uma cidade do tamanho do Rio ou São Paulo. Se por acaso você visitar Toronto em qualquer sexta-feira dos próximos 28 anos, não perca a chance. A programação dos Serial Diners está aqui.
Ad Hoc (enquanto existir)
6476 Washington St., Yountville, CA.
Tel: 707.944.2487.
Serial Diners
http://www.probability.ca/diners/
Jason Taniguchi - Tel: (416) 516-0743

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9.1.07

Lulu

O Lulu é mais um caso típico de restaurante que, de tão perto de casa, a gente sempre deixa para outro dia. Outro dia finalmente caiu na terça feira passada.
Instalado na esquina da Lopes Quintas com Visconde de Carandaí – rua onde já estiveram o Allons Enfants, o Mistura Fina Bistrô (onde fiz meu primeiro jantar numa cozinha séria, mas isso é outra história) e o Bife de Pedra – a casa onde está o Lulu foi originalmente montada com outro nome e outros proprietários, até que foi assumida pela Lelena César - que não sei se ainda está lá - e pela Nick Cartolano. Não conheço nenhuma das duas pessoalmente, mas a Lelena foi craque na reformulação do menu do Gula Gula há alguns anos que, sem perder sua identidade, amadureceu e evoluiu muito nas suas mãos.
O restaurante tem três andares, no térreo há um estar - que em português é lounge - e um bar. No primeiro piso um salão com uns quarenta lugares e na cobertura um terraço ao ar livre com outro bar que em uma noite fresca, o que não era o caso desse dia, deve ser muito agradável.
No Lulu, a comida pode ser descrita como “italiana moderna mas nem tanto”. O menu tem algumas entradas tradicionais como vitello tonnato e carpaccio e outras como foie-gras com porcini e camarões ao limão e capim santo. Os pratos começam com ostras, massas frescas e vários risottos e continuam com ossobuco, pato e até um cabrito que tem que ser encomendado de véspera.
Já no couvert nos repreendemos mutuamente por ter demorado tanto a visitar o restaurante. Pães e grissinis feitos na casa, alho assado inteiro e um tomatinho cereja muito bem temperado fizeram sucesso. A caipivodka bem feita e o serviço atento completaram a boa impressão inicial.
Talvez, para quem goste de comer mais leve, os pratos principais do Lulu não façam tanto sucesso. Foi o caso de minha mulher, que acabou pedindo duas entradas; um excelente tartar de legumes com queijo de cabra – o melhor prato da noite – e uma polenta de batata com ovo, shitake e azeite de trufas muito simples e por isso mesmo difícil de ser tão saboroso como estava. Eu, depois de me fartar com o alho assado e a foccaccia do couvert, pedi um confit de pato com purê de batata-baroa que só poderia estar melhor se o prato fosse maior. Fiquei com gosto de quero mais. Completamos o jantar com um sorvete de Nutella e outro de creme com cafe espresso acompanhados de duas taças de Chandon Brut.
Aqui faço uma pausa nos elogios para reclamar do preço cobrado pelo espumante: R$ 14,00 cada tacinha, de Chandon! Acho um abuso o que em geral os restaurantes cobram por bebidas em taças. Duas dessas pagam o custo da garrafa toda. Se fosse mais barato um pouquinho tenho certeza que venderiam mais vinho, ainda mais com os equipamentos que existem hoje para conservação de garrafas abertas.
Desabafo feito, no final o bom jantar no Lulu custou pouco mais de R$ 200,00, o que nos pareceu justo, estava tudo bastante bom (com exceção do preço do espumante, claro).
Difícil encontrar um restaurante italiano com o perfil do Lulu por aqui. Sua comida é tradicional sem ser típica, é simples sem ser óbvia e é saborosa sem abusar de temperos. Talvez peque pelos pratos um pouco mais pesados do que estamos acostumados, mas, para nós que moramos perto, é só mais um motivo para ir a pé abrindo o apetite e voltar fazendo a digestão.
Lulu
Rua Visconde de Carandaí, 2
Jardim Botânico – 21 2294.7830
Manobrista e estacionamento rotativo em frente

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5.1.07

Dois bares com comidinhas

Tem lugares que você volta porque acha que merecem uma segunda chance, na primeira vez você deu azar. Há outros que logo de primeira você já planeja voltar para confirmar que não foi sorte, que ali é bom mesmo. Vivi as duas situações na semana passada.
A Toca do Siri, primo pobre do Siri Mole – considerado um dos melhores restaurantes de comida brasileira da cidade – ficou famoso pelo rumor de que divide a cozinha com o primo rico, logo ao lado, servindo porções menores em um ambiente muito mais simples e, claro, com preços mais em conta. No começo de 2006 comi lá um vatapá que veio sobre tortinhas de uma massa que não consegui identificar. Também não consegui terminar o prato de tão sem graça, pesado e difícil que era o conjunto. Minha mulher comeu um acarajé que achou muito bom. Para mim foi uma péssima experiência. Mesmo assim, na semana passada voltamos na Toca só porque era fim de ano e a gente tenta perdoar qualquer injustiça que possa ter cometido. Dessa vez escolhi um prato mais simples, a casquinha de siri, considerada o bolinho de bacalhau dos restaurantes baianos, e descobri que, pelo menos ali, eu não tinha nada a perdoar. Muito pelo contrário.
Para começar, a casquinha vem sem casquinha, total anti-clímax. O recheio divide um pratinho de sobremesa com uma farofa de dendê e gomos de limão. Estranhei a cor muito vermelha do siri, mas pensei que pudesse ser de algum tempero diferente usado. Ledo engano. Era mesmo um exagero de tomate que escondia todo o sabor do crustáceo e dava uma aparência – sem exagero – de um molho a bolonhesa. Em cima de um espaguete não faria feio. Ao meu lado a madame devorou o primeiro bolinho de acarajé, mas o segundo teve que ser trocado – sem muito espanto nem desculpas do garçom – porque veio faltando um pedaço que foi devidamente escondido na montagem do prato. O único garçom da pequena casa preferia ficar batendo papo na calçada e tinha que ser convocado toda hora. A boa ação custou R$ 53,00. Em resumo, a segunda vez foi pior do que a primeira o que evita uma terceira.
No dia seguinte, também tomando resoluções de fim de ano, resolvemos experimentar o Saturnino que, de tão perto de casa, não poderíamos passar outro ano sem conhecer. O ambiente ao ar livre sob uma bela árvore é quase único na zona sul. O cardápio tem comidinhas, sanduíches e pratos bastante variados além de uma lista enorme de drinques e várias opções de cervejas o que confirma seu perfil de bar. Como novatos na casa, decidimos pedir os clássicos harumaki de brie com geléia de damasco, o hambúrguer de picanha e o sanduíche vegetariano. O harumaki é simples e bem sacado. O queijo salgado, o doce da geléia e o crocante do rolinho combinam bem. Meu hambúrguer também estava bom, um belo bife ao ponto com queijo e tomate, pão de gergelim – que poderia estar mais fresco – boas batatinhas fritas e molho barbecue. Surpreendente foi o sanduíche vegetariano; berinjela e abobrinha grelhadas, tomate seco e mussarela de búfala na ciabata quentinha fizeram um ótimo conjunto. A madame adorou, o que garante a volta para provar mais comidinhas. Boas caipivodkas, ambiente agradável, serviço normal e café decente completaram a noite. A nota de R$ 83,00 é muito mais justa do que a da véspera. Meu único alerta é não ir antes das nove da noite porque o ruído do trânsito na rua até esse horário é insuportável.
Resoluções de fim de ano são sempre positivas, seja para reparar ou não repetir erros, seja para começar o ano novo com boas novidades. E se algumas boas novidades ainda por cima são pertinho de casa, melhor ainda. Dei sorte.
Toca do Siri – R. Raul Pompéia, 6. Copacabana - 21 2247.6333
Saturnino – R. Saturnino de Brito, 50. Jardim Botânico - 21 3874.0064

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1.1.07

Três baristas

O post sobre as três cafeterias do Leblon, que por acaso coincidiu com o primeiro concurso de baristas do Rio, causou grande discussão sobre o papel desse profissional. Três comentadores, Barista, Léo Moço e Baristete fizeram suas colocações com esclarecimentos e críticas ao posicionamento de produtores, empresários e profissionais que trabalham com café. O objetivo do post não foi analisar a atual situação do mercado de cafés e o trabalho dos profissionais da área, mas acabou descambando para isso. Se quiser leia aqui os comentários.
Bom, o que ficou claro é que os três concordam comigo: não é fácil tomar um bom café na maioria das cafeterias do Rio, ou pelo menos nas do Leblon.
Tendo a pensar que, se a coisa está tão feia como pintam, acho que neste momento os baristas são mais importantes na seleção e preparação dos grãos, na regulagem das máquinas e no treinamento de atendentes do que vendendo café nas cafeterias. Por isso, queria pedir que eles não deixassem nosso cafezinho ser tomado pela glamourização que a comida e o vinho passaram. Que atuem para que nós e os turistas possamos beber aqui um café que represente bem nosso excelente produto. O café gourmet tem seu lugar, mas a grande maioria de nós quer um bom cafezinho depois do almoço, naquela hora que encontramos um amigo na rua e encostamos num balcão para colocar a conversa em dia ou de manhã, em casa. Se conseguirem isso, será uma enorme vitória e terão sua profissão reconhecida não só pelos entendidos, mas por todos que gostamos de um bom café, que não somos poucos.
E já que estamos cercados de especialistas, anônimos ou não, peço uma consultoria: Qual é o melhor café que podemos comprar em supermercados e/ou lojas mais especializadas? Como prepará-lo em cafeteiras tipo italianas, de coador ou expressas caseiras?

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